Crimes religiosos

A tragédia quotidiana de crimes com motivações religiosas não pára. Há quem, em nome do respeito pelo multiculturalismo e pela fé individual, contemporize com a fanatização de crianças, através da catequese, e de adultos com enraivecidas homilias.

As catequistas da minha infância incutiam nas crianças o ódio aos judeus, comunistas, maçons e ateus, ao mesmo tempo que, com inflamada piedade, dedicavam as orações a um reles ditador que apelidavam de salvador da Pátria e cujas funções atribuíam a um desígnio divino.

A experiência pessoal ensinou-me a estar atento à educação deletéria de todos os beatos, particularmente dos religiosos, e a recusar as escolas do crime, que visam o proselitismo e a perseguição às liberdades individuais.

As religiões são associações de fiéis, idênticas aos partidos políticos e a colectividades, sujeitas ao primado da lei e ao escrutínio dos tribunais. Não se lhes pode permitir que, em nome de Deus, combatam o Estado de direito e defendam o racismo, a xenofobia e a violência. Não se lhes pode tolerar o terrorismo e o desprezo pelos princípios que regem as sociedades civilizadas nem que se tornem organizações totalitárias.

Ontem foi cometido mais um atentado, na Argélia, contra uma escola superior militar. Morreram mais de quarenta pessoas, quase todas civis, vítimas de um suicida islâmico que conduziu um veículo com explosivos que atingiram um autocarro de passageiros e vários automóveis que ali circulavam.

Se um partido político fizesse a apologia terrorista contra os adversários era ilegalizado. Mas a religião gera cumplicidades e medos que lhe permitem aumentar o poder e tornar a sociedade e a civilização reféns de um deus violento, cruel, vingativo e esquizofrénico semelhante aos homens que o criaram em períodos tribais, bárbaros e patriarcais .

É tempo de pôr cobro à demência prosélita dos crentes fanatizados, julgando e punindo os pregadores do ódio.

Nota: Este texto está também publicado no SORUMBÁTICO.

Comentários

Excelente texto.
Pelo menos nos nossos Estados de Direito, há que vigiar e controlar o ensino que nas escolas é ministrado às crianças, até porque os islâmicos terroristas normalmente não são os imigrantes da 1ª geração, mas os filhos e netos deles, educados na Europa em escolas islâmicas.
E há que ter cuidado com o "multiculturalismo", que, procurando apresentar uma face liberal, a maior parte das vezes não é mais do que um islamismo encapotado. Não passa de um novo nome dado a ideologias antigas e já gastas.
A situação na Argélia é muito especial, pois é uma mistura de terrorismo (ataques indiscriminados a civis) e guerra civil de guerrilha (ataques a polícias e militares, falsas-barragens, uso de fardas falsas, etc).

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Há 9 ou 10 anos estive em Argel por várias vezes, no auge da violência, e sei o medo que senti:
Bombas em táxis (no centro da cidade, de dia), outras em comboios (nem pensar em viajar neles), tiros nas ruas, barragens de militares e polícias por todo o lado, detectores de metais em edifícios públicos e hoteis, saídas à rua só acompanhado com argelinos, população em tensão permanente, etc. E viagens fora de Argel, só com escolta armada.

Nessa época, o número de mortos já estava estimado em 100 mil...
Na origem de tudo, está algo que nos faz pensar nos limites da Democracia, tal como a entendemos: o que acontece se, em eleições livres, ganham "os outros", os "não-democratas"?

Na Argélia, o Ocidente deu a resposta: faz-se um golpe militar, anulam-se a eleições, ilegalizam-se os vencedores e vota-se outra vez.
Receita genial e infalível, que torna a nossa concepção de democracia extremamente apelativa aos povos a que a receita se aplica...

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Mais tarde, quando eu lá estive, houve também umas eleições presidenciais muito curiosas:
Concorreram 13 candidatos, dos quais 6 foram considerados "não aceitáveis". Em consequência, 6 dos 7 que ficaram recusaram-se a participar. Ficou então Bouteflika, sozinho, que ganhou democraticamente...

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