Chipre – Um laboratório político

Desde cedo os princípios igualitários do comunismo me seduziram tanto quanto deles me separaram o centralismo democrático e o partido único.

Diz o aforismo que de boas intenções está o inferno cheio e, de facto, as experiências comunistas fracassaram em todo o lado sem terem alcançado o bem que se propunham e evitado o mal que consideravam transitório, condição sine qua non para o almejado paraíso.

O fracasso de uma experiência não arruína a doutrina e não vejo que uma segunda oportunidade, no respeito pelas normas do pluralismo e da alternância democrática, não possa e não deva ter uma segunda oportunidade, principalmente – como foi o caso – através de eleições livres.

O partido comunista do Chipre ganhou as eleições contra a direita e contra o empenhamento da Igreja ortodoxa que vai ter de aceitar um Estado laico como é próprio das democracias. Cabe ao novo presidente mostrar de forma exemplar que os marxistas respeitam o pluralismo e abdicam da conquista do poder pela via revolucionária e o devolvem quando a sorte das urnas o determinar.

Dimitris Christofias prometeu durante a campanha eleitoral que iria preservar a economia de mercado e que não procederia à nacionalizações de empresas. Claro que o contexto geopolítico não lhe permitiria outro caminho mas é saudável que um comunista possa mostrar que há caminhos heterodoxos em relação à teologia do ultraliberalismo.

Todos teremos a ganhar e Chipre não será a Cuba da Europa ainda que alguns julguem que um comunista que respeite a propriedade privada seja uma espécie de vegetariano que não dispensa o bife.

Comentários

Anónimo disse…
Até pode ser que o triunfo do Partido Comunista em Chipre dê resultado! Oxalá que sim. É que agora, felizmente, já não há União Soviética nem Pacto de Varsóvia para destruir no ovo quaquer tentativa de socialismo democrático. O socialismo não morreu em 1989 com a queda do muro de Berlim; já tinha morrido em 1968 às mãos da União Soviética quando esmagou a Primavera de Praga, liderada por Alexarder DubcheK; daí até à queda do Muro foi apenas o agonizar de um regime putrefacto.
É claro que quando digo morrer é uma metáfora; o socialismo nunca pode morrer; mas atrasou-se talvez um século com o seu esmagamento em Agosto de 1968 em Praga, pelos tanques soviéticos. Os E.U.A. e os países capitalistas da Europa fingiram chorar lágrimas de crocodilo, mas no fundo esfregaram as mãos de contentes! Se a Primavera de Praga desse resultado, naquela época, o socialismo democrático espalhar-se-ia por toda a Europa!
Já agora é preciso não esquecer que o PCP foi uns dos poucos partidos comunistas da Europa a apoiar a intervenção soviética na Checoslováquia, isto é, a apoiar a destruição da 1ª hipótese de socialimo democrático. E ainda não se arrependeram: continuaram e continuam a ser estalinistas como sempre.
11 de Agosto de 1968: uma data a não esquecer, e que mudou a vida de muita gente,inclusivamente a minha.
Anónimo disse…
Agora, os cipriotas estão lixados, vão começar as injecções atrás da orelha...

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides