Venezuela. Opinião de um leitor

Há outros democratas musculados:

«Horas antes, el presidente de Fedecámaras Bolívar, Senén Torrealba, renunció a su cargo de director regional. Su decisión fue motivada por "la ausencia de garantías en el derecho democrático a la disidencia".

Señaló que Fedecámaras "reincide en el protagonismo político y sus líderes asumen posiciones que no son consultadas con la base". Y dijo negarse "a ser cómplice" de esa situación.»

Ou seja, o presidente de uma entidade que é suposto representar os empresários venezuelanos, impõe uma vontade -- votar não -- a todos eles. Toma lá que é democrático! ( V/aqui)

Chavez manda bojardas, é certo, mas não podemos esquecer a responsabilidade deste organismo patronal no golpe de estado e nas greves que quase arruinaram o país há uns anos.

Actualmente acusa-se (não só Chávez o faz) a Fedecamaras de ser responsável pelo desabastecimento propositado no mercado interno de alguns produtos de consumo de primeira necessidade, há suspeitas de conspiração e há antecedentes.

O que se passa é que a reforma vai permitir ao Estado (ou ao governo, ou às comunas, ou ao Chávez, não importa) algum controlo sobre os meios de produção. Esta é que é realmente a grande batalha oculta do patronato, não se trata das questões bonitas como democracia com que tentam tapar os olhos.

Outra coisa: quem ler as notícias na imprensa (internet) sobre as sondagens ao referendo, praticamente todas falam na vitória do "não" e mais recentemente no empate técnico (que prudente!). Outras há que ao assim noticiar, ainda dão conta que do lado governo há outras sondagens contraditórias (àquelas, claro, não entre si) que dão vitória ao "sim".
No entanto, é muito raro encontrar alguém que noticie este facto, e só com muita paciência lá descobrimos que há projecções que dão no mínimo 10% de vantagem do "sim" relativamente ao "não".

Perante os factos:

--- acusa a CNE (comissão nacional de eleições) os órgãos de comunicação social (tv e imprensa) de ter dedicado ampla cobertura da oposição (alguns casos a ir aos 80%) e que vai investigar o desequilíbrio informativo;
--- a guerra de sondagens é já conhecida de outras eleições (que já foram muitas);
--- a manifestação dos estudantes a favor da reforma foi no mínimo esmagadora relativamente aos outros que se dizem representantes dos estudantes; no entanto, os actos dos segundos foram sobre avaliados pela imprensa venezuelana que se não deu o devido relevo aos malvados chavistas (o vídeo da mobilização chavista está na internet e não augura nada de bom para os defensores do "não");
--- A oposição tenta agora convocar o término da campanha para a avenida Bolívar, tradicionalmente o espaço das demonstrações chavistas (onde mais uma vez vai culminar a campanha do "sim"), e dizem eles que não querem conflitos nem violência! Entretanto vão dizendo que de forma alguma vão permitir que lhes imponham a reforma, demonstrando assim as suas qualidades democráticas e rivalizando com o abominado Chavez em declarações incendiárias.

Adivinha-se a estratégia: conseguir na rua o que provavelmente não vão conseguir pela via democrática, denunciando uma pretensa fraude, num país da América Latina cujos actos eleitorais mais são vigiados por observadores internacionais.

É curioso, mas perante não só o amplo apoio a Chávez como também perante a mediocridade e cinismo dos seus opositores, dá-me a sensação que ao reunir o discurso das questões sociais com os modos autoritários ou mesmo mal-educados, Chávez é quem neste momento melhor representa todo o povo venezuelano, para o bem e para o mal.

Todos eles têm o presidente que merecem.

a) matarbustos Qua Nov 28, 09:29:00 AM

Comentários

Anónimo disse…
O que é curioso é que os Venezuelanos que apoiam o seu presidente, constituem quase o dobro da população portuguesa, para dessespero das carpideiras que por aqui dão palpites acerca da democracia e dos tais referendos que cá não servem mas lá são importantes.
Anónimo disse…
Caro JRD, acha isso um argumento de jeito??? Houve mais votantes em Bush do que em Chávez nao houve??? Deduzo entao que este exemplo seja também um argumento demolidor...
Anónimo disse…
Caro Van Aerts,
Se calhar o argumento não é de jeito até porque tem um "esse" a mais...
Quanto ao exemplo que dá, apenas refiro que mais de 2/3 da população venezuelana ou seja 19 milhões, apoia o Chavez, se calhar porque se recusa a ver o problema do seu (dela) país com as "nossas lentes".
Já agora, Bush foi eleito por pouco mais de 27% dos americanos dos USA e é de facto um presidente "demolidor"...
Cumprimentos
e-pá! disse…
Hugo Chavez de certo modo começa a interferir demasiado na agenda política sul-americana :
O governo baseado nuam sucessão de plebiscitos constitucionais levantou poderosas reacções internacionais e, no âmbito regional, começaram a aprecer os primeiros desfasamentos.
Há nesta situação um inimigo de estimação - os EUA. A Administração americana tem estado calada. Não quer isto dizer que estja queda. Por todo o lado fala-se da "Operación Tenaza" , que estaria a ser afanosamente trabalhada pela CIA.
Mas o problema regional, também não corre bem:
- para além da "boutade" que ouviu de Juan Carlos e que não conseguiu digerir facilmente;
- o fim do papael de mediador com a guerrilha e o virar de costas do presidente colobiano Uribe (com um "congelamento de relações);
- as recriminações de Michele Bachelet, presidente do Chile, sobre a responsabilidade do actual preço do pretroleo,

etc.

Hugo Chavez já teve melhores dias...
Camarelli disse…
3 notas:

1) No meu texto refiro que a oposição marcou o fim da campanha para a avenida Bolívar, o mesmo local para o fim da campanha pelo «sim», mas tiveram a sensatez de antecipá-la para hoje.

2) em relação aos primeiros comentários, se bem me lembro, Chávez foi eleito com os votos de 7,3 milhões eleitores; como em todo o lado se ignora a abstenção, dá-se lugar à simplificação de dizer que 2/3 da população o apoia, quando na verdade ele obteve foi 2/3 dos votos. Ainda assim, é uma maioria invejável em qualquer parte do mundo.

3) Já li a «Operación Tenaza» que o E-pá! refere mas desconfio que o texto seja fabricado, pelo excesso descritivo, a inclusão de nomes completos e pela redacção naif (parece saída de um filme de Holywood). Mesmo assim, acho bem provável que exista uma operação do género, a CIA já fabricou suficientes golpes de estado por esse mundo fora para aventar esta hipótese.
Camarelli disse…
não tenho muito tempo agora, mas deixo-vos uma fresquinha:

uma filmagem dentro de uma igreja na venezuela onde se incita a desconhecer a priori o resultado do referendo buscando o confronto.

admirem em todo o seu esplendor os personagens que tanto agitam a bandeira da democracia, e observem sem espanto a repetição histórica da afinidade da igreja com o fascismo.

http://www.aporrea.org/medios/n105515.html
Camarelli disse…
Já agora, comparem estas duas notícias sobre a marcha de encerramento da campanha do «Não»:

uma notícia publicada às 14:50 pelo El Universal, que afirma
La manifestación fue una de las mayores demostraciones de fuerza de la oposición en los últimos años

enquanto a aporrea.org dá conta da cobertura televisiva com imagens até às 14:30 e acusa:
Globovisión miente: muestra concentración antichavista con tomas cerradas

Isto quase dá vontade de rir, faz lembrar o jogo do ministro da informação iraquiano, lembram-se?

Perante isto, como é que se pode comentar quaquer notícia que venha da Venezuela sem esperar um mínimo de 3 a 5 horas após aturada pesquisa?
Anónimo disse…
Exªs democráticas vejam esta posta aqui de hoje:
http://www.xatoo.blogspot.com/
Sobre o porque não te calas e a treta que foi o rei que salvou a espanha na Tejada ver isto de Rui Pereira em
http://jornalmudardevida.net/

Mensagens populares deste blogue

Divagando sobre barretes e 'experiências'…

26 de agosto – efemérides