Momento Zen de segunda

João César das Neves (JCN) debita homilias semanais cuja finalidade é a conversão dos réprobos mas não ultrapassa a penitência do beato. Vejamos a homilia de hoje, no DN.

Referindo-se à baixa natalidade - um facto indiscutível e preocupante -, responsabiliza o Governo em vez de apelar aos católicos para aceitarem os filhos que Deus lhes mandar, embora entre em contradição com os apelos à castidade que é frequente fazer.

Eis a débil argumentação do fundamentalista religioso: «Foi este Executivo que fechou maternidades, liberalizou e subsidia o aborto, impôs a educação sexual laxista. Ele é o herdeiro dos que facilitaram o divórcio, promoveram uniões de facto, promiscuidade, homossexualidade».

Este veredicto é deveras pungente e parece saído de quem, mergulhado em água benta, entrou em anóxia. Não é verdade que os países com mais alta taxa de natalidade são aqueles onde não há assistência médica e que os períodos históricos mais férteis foram os de mais pobreza e maiores carências alimentares, higiénicas e culturais?

Bem sabemos que o que dói ao pio colunista do DN é a legalização do aborto. Mas não saberá o devoto que a raiva que nutre pelo facto de não poderem ser presas as mulheres que abortem nos termos da lei, será vingada pelo castigo do seu Deus?

É arrasadora e comovente a acusação retroactiva ao primeiro-ministro: «Ele é o herdeiro dos que facilitaram o divórcio, promoveram uniões de facto, promiscuidade, homossexualidade».

JCN, na sua vocação totalitária, quer impor aos outros o seu catecismo? Quer ilegalizar o divórcio, proibir as uniões de facto, a promiscuidade (seja isso o que for) e prender os homossexuais? JCN não é apenas o beato que agrada aos padres, é o sacristão que quer abolir os direitos individuais e restaurar a polícia dos costumes.

Imagine-se a mentalidade de um fanático através da censura ao programa do Governo:
JCN abomina: "Combate à violência doméstica", "Igualdade de género", "Uma política de verdade para a interrupção voluntária da gravidez" e "Política de não discriminação".

Eis um crente medieval, defensor dos bons costumes e, paradoxalmente, da castidade e da reprodução, sabendo que esta se faz, ainda, na forma mais popular – pelo método tradicional.

Comentários

Anónimo disse…
Não quis deixar comentário sobre o artigo sem antes o ler.
Foi o que fiz.
Após a leitura do dito artigo, o que posso dizer?
Que, por exemplo, Carlos Esperança foi muito benevolente na análise que fez do mesmo.
Que, embora habituado ao delírio medieval de JCN, há muito que não lia coisa tão abjecta.
De facto, JCN sabe exceder-se a si próprio e oferece-nos uma prosa, certamente, resultante de uma prolongada exposição ao sol.
O obscurantismo medieval em pleno século XXI é encontrado aqui em todo o seu explendor, mesmo que seja difícil de acreditar que ainda haja alguém que assim pense.
Além de execrável, este texto é chocante, pela menorização que faz de conquistas civilizacionais tão importantes como o divórcio ou o combate à violência doméstica.

Para ler, reflectir e guardar.
Este é um texto antológico, no pior sentido do termo, mas que serve para "medir o pulso" aos seguidores cegos, surdos e mudos da mais ortodoxa doutrina da ICAR.
Um texto com um inestimável valor sociológico.

Os aspectos mais sórdidos, deixo-os para um bom psiquiatra.

Um abraço, Carlos Esperança.
jrd disse…
No tempo da anestesia (eufemismo)havia uma folha da ICAR, chamada "Novidades", dirigida por um tal monsenhor César das Neves, cuja prosa, comparada com a do actual inquisidor era quase uma pérola "revolucionária".
ana disse…
Que coisa repugnante, este homem (homem?)!
A coisa fede, a coisa odeia as mulheres, a coisa odeia o mundo. Parece que a coisa é casada e tem filhos. Como os terá feito? Com os olhos no crucifixo, pedindo perdão pelo prazer proibido? E como para ele só o sexo que tenha por fim a procriação é permitido, ou a coisa tem muitos filhos ou tem praticado a castidade, daí provavelmente o seu cérebro estar inundado de líquidos. Bom, vamos ser benevolentes e presumir que afinal este é apenas um caso para a psiquiatria.
Anónimo disse…
É quase inacreditável que o Abominável César das Neves exista. Se não tivesse a certeza de que ele existe mesmo, pensaria que era uma caricatura inventada pela esqueda para ridicularizar a direita reaccionária!

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