Os Grandes Portugueses

Este programa da RTP (originário da BBC) tem vindo a ser criticado em diversos quadrantes, especialmente por alguns historiadores e intelectuais.

Identifico algumas correntes dentro dessa crítica.

Uma primeira seria a “critica da inveja”: critica-se a qualidade dos apresentadores, acusando-os de não serem especialistas e de cometem erros grosseiros… Fica subentendido que estes críticos gostariam de ser eles prórpios os apresentadores…

Outra corrente, que classificaria como a “critica do costume”: “lá está a televisão a fazer mau serviço público, a destruir aquilo que até seria uma boa ideia, desde que feita de uma “outra maneira””… Ficamos sempre sem saber ao certo a que “outra maneira” se referem. Mas sabemos, que tocando nos seus domínios da História e da cultura, estes críticos não poderiam ficar calados...

Uma terceira é mais séria. É uma crítica ideológica e metodológica e portanto mais legítima e mais respeitável. Partindo do marxismo e do estruturalismo (dominantes na historiografia do século XX) vêm dizer, como José Manuel Pureza, na Antena 1, que grandes portugueses são todas as mulheres e homens que se levantam às 6 da manhã para apanhar o transporte e ir para os seus trabalhos, etc., etc. Que a História é feita pelo colectivo, por processos dinâmicos, etc., etc. Enfim, todo o discurso de a minha geração foi vítima nos estudos liceais onde aprendemos uma História (quase) sem rostos, com o mínimo de Reis e de heróis, mas com muitos “factores”, “dinâmicas”, infra-estruturas”, “supra-estruturas”, “demografia”, “economia” e “sociedade”…. O que tem inegáveis vantagens e méritos, mas que – sozinha – resulta algo ‘asséptica’ ou sem cor. Há lugar para os grandes homens e mulheres. Há pessoas que fazem a diferença (Afonso Henriques, Vasco da Gama), que indicam o caminho (Infante D. Henrique, Marquês de Pombal), que nos oferecem a consciência moral do que somos enquanto povo e nação (Camões, Pessoa). Só por preconceito ideológico se pode negar esse facto.

Incomoda muita gente, e a mim também, que nas 10 figuras em análise conste o Ditador de Santa Comba e o fiel agente de Moscovo.
Mas vejamos pela positiva: não temos princesas, nem rainhas da moda. Nem sequer futebolistas (por muito mérito que lhes reconheça) – e nem todos os países se podem orgulhar deste registo…
É pena não encontrar cientistas (embora, para mim, o Infante D. Henrique seja o grande “organizador de ciência e tecnologia”), ou sequer uma mulher. Mas é o fruto da História que se foi ensinando e vivendo desde que os “votantes” estão vivos.

Numa palavra: os programas que vi até agora (só alguns) foram interessantes, estimulantes e agradáveis. Aprendi mais qualquer coisa e fiquei curioso por saber mais. Acho que a TV pública cumpriu o seu papel naquele bocado de serão. Só a isso está obrigada.
O programa tem, pelo menos, uma virtude: pôs-nos a reflectir um pouco sobre a nossa identidade, a nossa História e as pessoas que, em vários domínios, da política, à ciência, à literatura, foram marcando a diferença no nosso Portugal e no Mundo.

Os intelectuais da desgraça que não desanimem. Certamente depois deste programa haverá outros que poderão alegremente (embora com ar abatido e desolado) criticar…

Comentários

Anónimo disse…
Caro ANDRÉ.

O seu texto é uma desgraça pela maledicência. Intragável, sem leitura possível.

Mas avnço com uma opinião: o melhor português de sempre é o Professor Doutor Pais Clemente. Conhece?

Zézé
Unknown disse…
Discordo deste concurso por razões várias. A primeira, porque não há um que seja melhor que todos, parece-me. Há vários ao mesmo nível e é perigoso ter de escolher um.Depois, não reconheço à maior parte dos votantes conhecimento das personalidades em causa para poderem votar com seriedade.O que gera modas terríveis, como esta última de idolatrar salazar, branqueando uma ditadura cujos efeitos (nefastos) ainda hoje se fazem sentir.
Anónimo disse…
Este texto é no mínimo uma aleivosia e um insulto à inteligência dos leitores.
São vários os despautérios, todavia, apenas vou referir o que mais feriu a minha sensibilidade:
Colocar no mesmo patamar um resistente à ditadura e o próprio ditador só pode revelar má-fé ou uma capacidade de análise distorcida, já que não quero acreditar que se trata de problemas de natureza psicológica.
É pelo menos tão ignóbil, como a atitude dos que votando em Mário Soares, o colocaram ombro a ombro com o mesmo ditador na iniciativa similar para escolha do pior português de sempre.
Não é necessário ser-se partidário para recusar energicamente este texto.
Confesso que não esperava.
Anónimo disse…
Na minha opinião, o maior problema do André P. é ter ainda mitificado um dos maiores crápulas da história portuguesa, um tal Infante D. Henrique.
Dá algum trabalho tirar-lhe o falso verniz com que o cobriram, para o impingir a idiotas. Mas já era tempo de ver mais claro.
Quanto ao resto, comentários para quê?! Tanta é a idiotice!
Anónimo disse…
Nunca estive tão em desacordo com o meu Amigo Carlos Esperança.
Vi alguns (poucos) programas, que também achei "interessantes, estimulantes e agradáveis". Também "aprendi mais qualquer coisa e fiquei curioso por saber mais". Quem não aprende qualquer coisa, quem não reflecte um pouco, mesmo com maus programas? Só que História é muito, muito mais, e muito diferente, do que o que a TV nos tem passado nesse programa dos "Grandes Portugueses".
Por acaso, caro Carlos Esperança, os Prof. Doutores Reis Torgal e José Mattoso serão mesmo "intelectuais da desgraça", eles que tomaram, com outros, posição pública contra a metodologia do programa?

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