Notas soltas: Março/2005

Memória e identidade - O último livro de João Paulo II é um libelo contra a liberdade, um labéu contra o laicismo e um convite à revolta contra a democracia laica e liberal – um testamento na linha mais reaccionária da tradição católica.

Pena de morte – O Supremo Tribunal dos EUA anunciou, no dia 1, a abolição para deficientes e criminosos menores de 18 anos – um passo para a abolição completa e o indício da vitória da civilização, adiada pelo apego de Bush à pena capital.

José Sócrates – Depois do desastre dos últimos três anos só pode fazer melhor, mas em circunstâncias piores, e é preciso convencer os portugueses de que os sacrifícios valem a pena e de que o País tem futuro.

Médio Oriente – Não surpreende o ódio que devora os povos que a religião e a história acirram, o que admira é que a violência os não canse.

Ministro da Agricultura – Jaime Silva, alto quadro e prestigiado funcionário da Comissão Europeia, é um técnico de rara qualidade e elevada craveira. «Notas Soltas» desejam ao conterrâneo e amigo as maiores felicidades nas novas funções.

Freitas do Amaral – Só a baixeza de quem apoiou a invasão do Iraque e calou a violação dos direitos humanos em Guantánamo e no cárcere de Abu Ghraib, permite acoimar de oportunista um ministro que só tem a perder com o exercício de funções muito aquém das que já ocupou e renuncia a outras a que podia aspirar.

Lisboa – O regresso de Santana Lopes à Câmara, único palco e emprego que ocupa por direito próprio, é o regresso à liderança de um concelho onde 75% do eleitorado o abandonou nas eleições legislativas.

XVII Governo – A sobriedade da tomada de posse, rompendo com a liturgia dos intermináveis cumprimentos, foi a nota positiva. No aspecto simbólico falhou uma representação feminina mais alargada.

Assembleia da República – Nuno da Câmara Pereira é um bizarro deputado que o desvario de PSL fez incluir nas listas do PSD. Monárquico, fadista e marialva, é um divertido ornamento na actual legislatura.

Casa Pia – O encontro da Catalina Pestana, assistente no processo de pedofilia, com o arguido Carlos Silvino, fora da prisão, sob os auspícios da PJ, é um acto indigno e suspeito. Se a Provedora passar a testemunha terá muito que contar.

Espanha – A estátua equestre de Franco foi removida em Madrid, em frente aos Novos Ministérios criados por Azaña durante a República. Só resta outra, em Santander, que vai ser apeada. Falta investigar as valas comuns das vítimas do ditador.

Chile – Outro déspota, Pinochet, com numerosas e suculentas contas bancárias nos EUA, além de cúmplice de assassínios e torturas, é receptador e corrupto. A idade e a demência têm-no poupado ao julgamento dos crimes e ao cárcere.

Argentina – O bispo castrense António Baseotto sugeriu que o ministro da Saúde «devia ser atirado ao mar com uma pedra de moinho ao pescoço», por defender o uso do preservativo e a despenalização do aborto. Baseotto, que advogou o método com que a ditadura eliminava os adversários, teve a solidariedade do episcopado e do Vaticano.

Jaime Gama – A presidência da Assembleia da República é justa distinção para o velho combatente antifascista, homem de grande cultura e destacado político. Merece menos encómios o alinhamento com a actual política externa dos EUA.

António Guterres – Integra a pequena lista donde sairá o futuro Alto Comissário da ONU para os Refugiados. Os ataques da medíocre coligação que lhe sucedeu no poder não diminuem o mais bem preparado político português das últimas décadas.

Durão Barroso – O desejo expresso de ver Guterres designado Alto Comissário para os Refugiados recorda o ardor com que se bateu na defesa de António Vitorino para presidente da União Europeia.

União Europeia – A probabilidade do NÃO francês ao tratado constitucional aumenta à medida que o referendo se aproxima. A decepção e o pessimismo são as notas dominantes da Europa cujo futuro se torna mais incerto e perigoso.

PSD – Enquanto as hostes de Marques Mendes e de Filipe Meneses se digladiam, o partido procura uma solução que faça esquecer os dois últimos primeiros-ministros e o torne credível como alternativa política.

Setúbal – Prossegue hoje o julgamento de três mulheres, por crime de aborto. Depois da Maia e de Aveiro, continua a devassa da vida íntima, a humilhação e a ameaça de cadeia para mulheres que não puderam deslocar-se a Espanha.

Monumento ao 25 de Abril em Almeida – A comissão promotora decidirá em breve o destino e devolução do dinheiro à sua guarda caso considere esgotadas todas as tentativas para erigir o monumento.

Comentários

Anónimo disse…
SUBSCREVO NA GENERALIDADE OS COMENTÁRIOS E TÊM O MEU MODESTO APLAUSO.

Gostaria de ver melhor esclarecido o papel de Catalina Pestana neste Processo.Não tem vindo a contribuir para dar mais credibilidade a um processo demasiado sério para (aparentemente)ter começado por a perder logo como começou...A verdade e a competência (o profissionalismo) interessa às verdadeiras vitimas e aos verdadeiros inocentes...Assim tem-se assistido à descredibilização do mesmo(investigação e processo) que só pode interessar aos verdadeiros culpados e a um certo corporativismo de interessses...coisa de que, já lá vão 30 anos,e ainda não nos livrámos dela...

Quanto ao novo Governo é invrível como se começa logo a criticar e a afirmar ,coisas menos vedadeiras,(jornalistas e comentadores tornam "interrogações" em afirmações absolutas) ainda sem que o mesmo tenha tempo para respirar...
...não sou militante do PS.
ABRAÇO
DClemente
Mesmo sem aplauso, é uma honra ter o comentário de um dos mais emblemáticos capitães de Abril.
Quem subscreve por inteiro as dúvidas, perplexidades e surpresas manifestadas pelo Cor. Duran Clemente, sou eu.
Aqui lhe deixo um abraço de muita consideração e estima.
Anónimo disse…
Meu Caro Carlos,

é sempre com prazer que te leio. Não posso, porém, desta vez, e já que tenho a possibilidade que o comentário me deixa fazer, de te lembrar que foi justamente Guterres o primeiro a abandonar o barco enquanto Primeiro Ministro e quando aquele principiava a afundar-se com a "justificação" de que o país se atolava no pântano. Razão para actualizar aqui o dito: quando o navio se afunda os ratos são os primeiros a abandoná-lo. Como poderemos nós sentir-nos seguros com um almirante que a meio da travessia se põe a andar e deixa o navio à deriva? Mesmo que tenha sido o melhor cadete da escola naval e o melhor preparado, em teoria?

Recebe um abraço deste teu editor frustrado que se assina Joaquim Santos
Anónimo disse…
Caro Joaquim Santos:

Só o prazer de te encontrar por estas bandas já é suficientemente gratificante.
É mesmo um prazer enorme.
Quanto à apreciação da resignação de Guterres tenho uma interpretação diferente. Depois da monumental derrota das autárquicas não seria digno manter-se.
Normalmente os que o acusaram (não é o teu caso) foi por ressentimento por não lhes ter continuado a assegurar as sinecuras.
O «El País» fez-lhe na altura um rasgado elogio e apresentou-o como exemplo aos políticos espanhóis.
Não saiu, como Durão, para ir para um lugar melhor.
Tirando o caso do aborto em que não se portou mal (portou-se pessimamente) foi um primeiro-ministro exemplar na minha humilde apreciação.
Um abraço.
Mano 69 disse…
Pois é o Guterres tem o azar de ser Republicano, Socialista e... Católico! Não necessáriamente por esta ordem.

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