O Governo e os vistos dourados

Enquanto Cavaco Silva faz de morto e Passos Coelho de primeiro-ministro, o Governo desintegra-se. Os ministros da Justiça, Educação e Negócios Estrangeiros arrastam-se num barco que perdeu as velas e o leme, à espera que lhe indique o rumo a luz de que o faroleiro não sabe onde fica o interruptor.

A demissão de Miguel Macedo, cuja permanência política era insustentável, o que só o PM não percebia, permitiu um exercício de rara bondade, de sequazes e adversários, a incensar o desapego ao poder e a clarividência do político. Até Soares e Sócrates, num ataque de bonomia, fizeram coro no panegírico ao defunto ministro das polícias.

Só falta vê-lo, livre do ónus de responder politicamente pelo escândalo que o atingiu, a refugiar-se na AR, abrigado com a imunidade parlamentar, a estorvar as investigações, antes de explicar a coincidência que o aproximou do chinês que ficou preso.

Quando o país vê desprestigiados os sectores mais nobres da governação, a Segurança e a administração da Justiça, independentemente da prova que vier, ou não, a ser feita, os cidadãos sabem o pântano em que mergulharam. O certificado de validade, irrevogável e vitalício, que o PR passou ao Governo, só caducará por imposição constitucional. Este Governo goza da impunidade que na Idade Média conferiam os forais. D. Aníbal não abdica do seu bolo-rei, apesar de só lhe saírem favas, e não revoga o foral a S. Bento.

O leilão de vistos dourados já destruiu o resto da credibilidade do Governo, se ainda lhe restava alguma. Um Governo de sucateiros não está à altura de outorgar vistos de ouro. Este processo, cheio de viagens à China, do domínio da alquimia, cheira a esturro.

Aguarda-se dos Tribunais e da sua independência, agora sob escrutínio severo, a prova das acusações. Se fracassarem, arruínam a derradeira confiança dos portugueses.
 
Ponte Europa / Sorumbático

Comentários

Anónimo disse…
Para mim fica a pergunta.
Será que isto é mesmo um País?
É um país em decomposição, António Castro.

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