Notas Soltas - outubro/2012
5 de Outubro – Talvez o
medo de ser vaiado levou Passos Coelho a emigrar num dia emblemático da
História, feriado cuja extinção fere a matriz identitária do regime e revela a
falta de cultura, de ética e de patriotismo de quem o aboliu e de quem deixou.
PR – A celebração do 5
de Outubro num recinto fechado mostra a estima que lhe merece o feriado cuja
abolição consentiu. Talvez confunda José Relvas, que proclamou a República, com
Miguel Relvas que a desonra.
Bandeira Nacional – O
símbolo maior da República foi içado de pernas para o ar no dia 5 de outubro,
lapso infeliz que acontece, mas converteu-se, na atual conjuntura, na dolorosa
metáfora de um governo à deriva, sem rumo, sem projeto e sem futuro.
PS – A redução do
número de deputados, aspiração populista e demagógica da direita mais
reacionária, fez escola no PS. Sem coragem para reduzir o número de municípios
aceita encolher a AR para eliminar partidos e empobrecer a política.
IMI – O aumento
colossal deste imposto é a oportunidade para grandes empresas imobiliárias
transformarem os donos de habitação própria em arrendatários, fomentando a
eliminação programada da classe média. Caminho ínvio da agenda ultraliberal.
Congresso Democrático das Alternativas – Se resistir à tentação de competir com os atuais partidos políticos,
tornando-se mais um, prestará um enorme serviço à reforma dos que existem. Tem
gente, ideias e projetos indispensáveis à mudança.
Hugo Chavez – Demasiado populista para o meu gosto, foi
reeleito presidente da Venezuela de forma limpa e com indiscutível legitimidade
democrática, legitimidade que falta a quem um dia o mandou calar – o rei de
Espanha.
PGR – É positivo que,
pela primeira vez, tenha sido escolhida uma mulher e que o consenso seja
generalizado. A minha desconfiança baseia-se na unanimidade suscitada e no
apoio do sindicato que confiscou e politizou o Ministério Público.
União Europeia – O
Prémio Nobel da Paz é o galardão justo para tão longo período de paz,
cooperação e democracia, mas foi atribuído na pior altura e com a pior gente,
quando o bem-estar falece, o exemplo se dispensa e a solidariedade se desfaz.
Açores – O PS tirou 1
deputado ao BE; o PSD tirou 2 ao CDS; A CDU e o PPM seguraram o único deputado.
A consequência mais estimulante das eleições foi a derrota do CDS e a mais
inaceitável é o número excessivo de deputados de tão pouca gente.
Conferência Episcopal Portuguesa – O patriarca Policarpo advertiu os católicos contra manifestações de
rua, tentando convencê-los a prescindir do direito que ele usou nesse dia, 12
de outubro, na manifestação pia que reuniu 160 mil fiéis em Fátima.
CDS – O comportamento
de Paulo Portas, face à reação dos portugueses, leva-o a trair Passos Coelho
como outrora fez a Marcelo. A confiança que merece ao PSD é igual à que inspira
aos portugueses.
Comunicação social – A
venda de jornais, revistas e estações de rádio a capitais sediados em offshore
agravam o perigo da privatização da RTP, RDP e agência Lusa. A informação fica
dominada por interesses obscuros e o pluralismo comprometido.
Expresso – As escutas a
Passos Coelho revelam três coisas: o abuso de um meio que devia ser excecional,
a tentativa de linchar o carácter do PM e a impunidade com que se viola o
segredo de justiça. A crise moral acompanha a económica e social.
Francisco Louçã – A
renúncia ao mandato, de acordo com o seu sentido da ética republicana, deixou a
AR mais pobre. Foi um dos melhores parlamentares de sempre, lúcido, corajoso e
coerente. A política foi para este insigne catedrático de economia um serviço
público. E continuará a sê-lo.
Manuel António Pina – O
escritor, poeta e jornalista cultivou a arte da síntese e a magia da escrita.
As suas crónicas eram um ato de cidadania e um exercício cívico. A morte deixou
a literatura de luto e a democracia sem o intrépido combatente.
Grécia – O jornalista
Kostas Vaxevanis foi detido por denunciar a chamada «lista Lagarde», na qual
figuram 2.059 gregos, com contas na Suíça. Ninguém investigou as fugas fiscais
e os prevaricadores, mas foi preso o jornalista que publicou os nomes.
SLN /BPN – O burla mais
grave da história bancária portuguesa continua impune enquanto os presumíveis
delinquentes se divertem e os contribuintes amargam a fraude com os impostos
intoleráveis a que estão sujeitos.
Governo – O projeto de
eliminação de qualquer benefício social e a destruição da classe média faz
parte da agenda ultraliberal deste Governo cuja permanência faz mal à saúde e
compromete a esperança de vida dos portugueses. Perdeu a validade eleitoral.
OE/2013 – É um ministro
ultraliberal que aumenta o défice, o desemprego e a pobreza através de
impostos. Insensível a manifestações populares e perito em previsões erradas,
antes de o ver aprovado, já tem um plano para os seus erros – mais austeridade.
Ponte Europa / Sorumbático
Comentários
Obrigado pelo comentário.
Quanto ao primeiro ponto aceito as suas reservas ao que eu me limitei a chamar populismo.
No segundo ponto, embora paradoxalmente, as medidas foram tomadas por um ultraliberal que se afirma discípulo de Friedman.